sexta-feira, 20 de julho de 2007

Apresentação

Como também escrevi em cima, resolvi apresentar neste blogue os apontamentos que retirei do atelier de escrita a que tive a sorte de ir.
Compulsados os mesmos, constato o que já suspeitava quanto à sua incompletude. Escrevia com base no que ouvia ou via, mas por vezes tinha de o fazer no tempo dos exercícios durante a sessão. Não obstante, porque acho este mundo fascinante e gostei da ligação que foi estabelecida entre a literatura e a pintura e a música, resolvi criar este blogue, para fixar e partilhar um pouco do que foi o atelier de escrita.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

1ª Sessão 14.03.2007


O curso está a exceder as minhas expectativas e espero que continue assim. Estava indecisa em ir porque estava cansada e sem saber muito bem como seria. Cheguei uns minutos atrasada e a aula já tinha começado. Na sala ampla de tectos altos com candeeiros diferentes, encontravam-se várias mesas dispostas num quadrado e sentadas à volta talvez cerca de trinta pessoas (com algum devido desconto porque sou péssima a calcular o número de pessoas em grupos). Sentei-me no primeiro lugar livre que encontrei. À minha frente tinha algumas folhas de papel A4 brancas.
O professor é um escritor conhecido e tem também um grande poder de comunicação. Pôs-nos a escrever e a pensar sobre a escrita.
Os colegas de variadas idades para já parecem-me pessoas que gostam de livros e de escrever.
O primeiro exercício foi algo chamado "texto automático". Temos de experimentar escrever sem pensar como se fossemos atirados para a água e tivéssemos de estar descontraídos para conseguir flutuar. Lidos os resultados em alguns foi manifesto que não o tinham feito (e não vou transcrever o meu - mas se alguém ler o que estou a escrever agora e tiver alguns minutos, pode ser uma experiência engraçada ).
Quem disse "escrever é recuperar a inocência perdida"?
Terá sido Lawrence Durrell, mas não sei onde, se num dos seus livros ou numa entrevista.
Primeiro discordei.
Depois admiti que o pudesse ser quando me foi explicado que se terá em vista a intencionalidade e a ordem que as crianças concebem no que fazem.
Escreveremos para ordenar os nossos pensamentos, para lhes dar um sentido.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

2ª 21.03.2007
















Na 2ª sessão do curso começamos novamente pelo texto automático. Cerca de 15 minutos para escrevermos o que nos passasse pela cabeça, sem pensar... Não é fácil. E à minha volta ouvia o ruído das canetas dos colegas a escrever energicamente. A certa altura e à falta de assunto comecei mesmo a escrever sobre isso...
Depois debruçámo-nos sobre o quadro As Meninas de Velasquez. O que é que acham que o pintor no quadro está a pintar?
De seguida inclinámo-nos sobre um quadro de Álvaro Lapa. Não o quadro que "postei" aqui porque não consegui encontrar nenhuma reprodução do que vimos. No quadro há uma espécie de janela negra e à sua frente, de costas para nós, uma figura também negra recortada, com um halo claro à volta da cabeça. Entre a figura e a janela uma espécie de traço com tons de azul. Tem como título: "Sem título".
O professor escreveu no quadro a frase: "Quem dorme opera e colabora com o que sucede no cosmos"
A citação surge como um fragmento, designando-se por inter-texto o texto fragmentado que entra noutro texto e por intra-texto a totalidade do texto no qual se joga com isto, do texto de um autor que entra no texto de outro.
O desafio depois foi escrevermos um texto com referência à frase e ao quadro.
Eu fiz três tentativas, mas não gostei de nenhuma. Felizmente, não tivemos de ler todos o que tínhamos escrito, mas apenas aqueles que se dispuseram a isso. E caramba, alguns escrevem mesmo bem..

terça-feira, 17 de julho de 2007

3ª 28.03.2007

Foi lido um texto e falámos sobre diferentes tipos de textos.
O texto melancólico, que não é satírico, não tem carácter oratório, nem declamativo e é mais uma espécie de fala consigo próprio, intimista. Se não tivesse existido o movimento do romantismo, textos como este não existiriam.
Comporta o perigo de cairmos num rame-rame de nostalgias, como um lugar comum. Devemos precaver-nos contra um dos elementos da má escrita: a melancolia, a auto-contemplação das tristezas, das mágoas próprias. É preciso descer mais fundo, extravasar outros sentidos.
Muitas vezes um texto falha pelos tempos. Juntam-se letras, palavras, frases, sem respeitar o seu tempo interior, a pontuação. Ler um texto é muitas vezes rescrevê-lo.
Pessoas que usam muitas vírgulas às vezes são deprimidas ou atreitas à depressão, enquanto as que são parcas na sua utilização, se revelam ansiosas.
Devemos duvidar de um texto no qual o tempo das palavras não corresponde ao nosso tempo.
O ritmo, a cadência na articulação das palavras, de que Goethe dizia "ou se tem ou se não tem" é particulamente importante na poesia. Eugénio de Andrade tinha-o.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

4ª 4.4.2007

Exercício: escrever versos com 1o sílabas, acentuadas na 2ª, 6ª e 10ª (como acontece nos Lusíadas ou no verso de Florbela Espanca cantado por Luís Represas que será, salvo erro: "e é amar assim perdidamente").
Falhei redondamente neste.
Passámos para a literatura de viagens, com referência a Bruce Chatwin e à sua biografia por Nicholas Shakespeare.
Podemos ter uma de duas atitudes em relação à escrita. Optar por uma atitude óptica de descrição, sem qualquer adjectivação, descrevendo o lugar visível na sua materialidade, ou ter uma visão exótica, fora do olhar normal, visando uma aproximação do pitoresco através da pintura, da cor (a cor local) e da forma. Assim como há um espírito do tempo, procurar o espírito do lugar.

Exercício: em 10 linhas, incursão pelo espírito do lugar como uma fotografia revelar o que o torna único.

Ouvimos Diegueto el Cigala cantar Niebla del riachuelo, com Bebo Valdés ao piano, Javier Colina no contrabacho e Federico Britos no violino. (não encontrei a versão que ouvimos, mas encontrei esta.
Niebla del riachuelo Letra: Enrique Cadícamo / Música Juan Carlos Cobián

Turbio fondeadero donde van a recalar
Barcos que en el muelle para siempre han de quedar
Sombras que se alargan en la noche del dolor
náufragos del mundo que han perdido el corazón
puentes y cordajes donde el viento viene a aullar
barcos carboneros que jamás van a zarpar
sordo cementerio de las naves que al morir
sueñan sin embargo que a la mar han de partir

Niebla del riachuelo
Amarrado al recuerdo
Te sigo esperando
Niebla del riachuelo
De ese amor para siempre
Me vas alejando
Nunca más volvió
Nunca más la vi
Nunca más su amor
Nombró mi nombre junto a
Esa misma voz que dijo adiós

A escrita de qualidade surge do cruzamento da disciplina com a alma.
Com bons sentimentos faz-se má literatura.
Com boa técnica faz-se literatura inferior.
É-nos mostrado um quadro que me faz lembrar sombras na parede que através de posições das mãos assumem diversas formas. Tem por título "Mendigo com o seu cão insultando um homossexual". Não percebi se o nome do pintor era Eduardo Nery ou Eduardo Luís. Procurando na net descubro que existem dois pintores com estes nomes e ainda um Eduardo Luís Poggi, mas a nenhum consigo associar o quadro que não encontro. Por isso, irei postar aqui imagens de quadros dos três.
Exercício: escrever um texto com inspiração no quadro.




domingo, 15 de julho de 2007

5ª 11.4.2007






Foi-nos exibido um quadro de Helena Almeida, um auto retrato, que tem por título "Tela habitada". Depois foram projectados três auto-retratos célebres de de Rembrandt em diferentes idades.
Temos sempre a tendência para nos vermos melhores por dentro e por fora, ou pelo menos, mais próximos daquilo que gostaríamos de ser. Daí advirá, referiu o professor, a reacção muito feminina a ser fotografada: "Eu fico sempre mal nas fotografias" ou "Não sou nada fotogénica" (comentário meu: porquê feminina?)

Auto-retratos escritos
Qualquer trabalho de escrita é um auto-retrato ainda quando não escrevemos sobre nós. Pelo que ocultamos revelamos o que pensamos de nós próprios e do mundo que nos rodeia. Pelo espaço de ocultação nasce o verdadeiro retrato da pessoa.

Nos três auto-retratos de Rembrandt observamos que no da juventude não há qualquer enternecimento pela sua figura - observamos algo de impiedoso; no do fim da maturidade, próximo da do início da 3ª idade, encontramos muita frontalidade e verdade; no do fim da vida, vemos um rosto devastado ou acusando as marcas da passagem do tempo.

Não obstante a atitude de anti-moda, anti-beleza, há vícios que ninguém confessa: crueza, inveja, egoísmo, indiferença ao sofrimento alheio, porque são destrutivos e dão uma imagem péssima. Já a independência e o orgulho embelezam e não ficam tão mal.

O Marquês de Sade, Lautreamont e Jean Genet disseram horrores de si mesmos para serem admirados por isso.

Exercício durante a sessão: descrever-nos a nós próprios

Pela primeira vez, foi-nos dado um trabalho para fazer em casa: escrever um texto como se fossemos um personagem de quatro, com características que nos foram indicadas, depois de sermos também divididos em quatro grupos:
- um rapaz da classe média, toxicodependente/alcoólico com pretensões literárias;
- uma mulher de 65 anos da classe média alta que vive só e fez dois "liftings"
- um homem de quarenta anos, executivo, que sofre de disfunção eréctil;
- uma rapariga da classe trabalhadora, de 19 anos que vive num bairro social e trabalha como caixa num supermercado.
Dos quatro possíveis, penso que o que me foi atribuído seria o último que escolheria.

sábado, 14 de julho de 2007

6ª 18.4.2007

Exercício: Escolher alguém da sala sem revelarmos quem e descrever depois essa pessoa.
Começamos o exercício, lemos o que escrevemos. O Professor adivinha sobre quem terá escrito uma das colegas. Sobre um dos colegas, adivinhamos todos. Em relação aos restantes eu não descobri sobre quem escreviam e penso que a maior parte dos colegas também não terá desvendado sobre quem escreviam os outros.

Passamos depois para o Baixa Astral: escrever sobre o que há de negro e negativo em nós.
É referido o Expressionismo de Edward Munch com "O Grito" e os escritos sobre Mefistofele, assim como o Conde de Lautreamont e os Cânticos de Maldoror, precursor do surrealismo (é nos lida uma passagem do livro). Banaliza-se o horror, fala-se em horror, humor e asco. Corrente do Abjecticionismo. Desvenda-se a patologia mental: depressão, ansiedade, universo de pesadelos e infernos, das feridas que não cicatrizam. Espremem-se as feridas para que saia o máximo de pus, como um hipocondríaco que relata as misérias do corpo. Na Casa Museu Teixeira Lopes em Gaia, encontra-se um Cristo morto em bronze, deitado, nu. Trata-se de uma imagem igual à que se encontra na Igreja de Mafamude, com uma diferença: não tem sexo, por obra das beatas. Incorreriam em heresia ao negar-lhe a humanidade.
TPC: trabalho sobre um inferno em nós.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

7ª - 2 de Maio de 2007

(Quadro de Ângelo de Sousa)

Cheguei à hora, mas ainda estavam lá poucos colegas (o texto desta vez é mais extenso devido a ter ficado incumbida de tomar apontamentos para um colega). Pouco a pouco foram chegando mais, até que o nosso Professor resolveu abrir a sessão, convidando-nos a ler o TPC.
A 1ª voluntária leu um texto muito bem escrito bonito pelas imagens que evocava, mas não me pareceu um inferno. Mais uma história de vida, com referência a memórias partilhadas e a um cúmplice (devo sublinhar no entanto que por ter dormido muito pouco estava cheia de sono; apesar de estar a tentar estar atenta, pode ter-me escapado o "inferno" entre as linhas).
Depois voluntariou-se uma colega mais jovem. O seu texto era escrito por alguém que tinha sido abandonado e expressava o seu ódio contra aquele que a abandonara. Já me pareceu mais um inferno.
Um colega também jovem trazia um texto a duas vozes e pediu a ajuda do outro colega a seu lado. Penso que teria sido melhor ideia ter pedido a colaboração de uma colega porque o seu texto era sobre uma mulher torturada e a segunda voz era a dessa mulher. No entanto, pareceu-me muito interessante a sua ideia.
Não sei se nessa altura o Professor explicou-nos (melhor) o que pretendia com o TPC. Queria que inventássemos um narrador que falasse de uma grande humilhação sofrida. Como por exemplo alguém com um ar importante que se estatela no chão.
Referiu também que o texto confessional do nosso personagem perde força quando é acompanhado pelo elemento da compaixão.
Pretendia-se uma viagem ao fim da noite, a descoberta do nosso rosto, do que somos. Segundo o professor, em cada um existem vários trastes ou um traste, um ser abjecto e a noção de que às vezes vem à tona é importante.
O professor não queria a sombra da compaixão, mas o nojo. Deu o exemplo de uma mulher apaixonada por um homem, a quem outro homem se declara. Se este lhe pedisse e lhe suplicasse em lágrimas para ficar com ele, ela sentiria por ele repulsa, nojo, desprezo. Pareceu-me que o professor tem a ideia de que as mulheres nesse domínio serão piores do que os homens.
Citou um poema de Eugénio de Andrade sobre o pai dele. Era filho natural. A mãe era uma camponesa abandonada, que o deu à luz em pleno campo e o pai um proprietário rural que tinha desprezo pelo filho por ser filho da camponesa. Nesse poema ele diz que iria cortar os genitais do pai e que depois os lhe enfiaria na boca (modalidade de humilhação que eu desconhecia).
Muito violento (esta apreciação é minha, agora).
O professor citou aquela frase ou será mesmo um título de um livro do Sartre "L'Enfer sont les autres". Referiu que os nossos ódios normalmente movimentam-se na esfera familiar, fonte de neuroses.
Referiu também que às vezes cruzamo-nos com pessoas que imediatamente detestamos (não tenho bem a ideia de isto me acontecer, mas pode ser porque sou míope)
Pediu-nos então para escrevermos um texto de ódio.
Escrevemos o texto e alguns voluntários leram os textos que tinham escrito. Penso que talvez dois, respectivamente de uma colega e um colega, pegaram no tema de uma forma parecida, como se tivéssemos uma leitura feminina e uma leitura masculina de alguém que tinha sido abandonado.
O Professor falou-nos então de alguns escritores que foram bem maus.
O Camilo Castelo Branco forjou umas cartas, fazendo crer a um amigo recém-casado que a mulher o tinha atraiçoado. A rapariga morreu de desgosto por se ver desprezada injustamente e o amigo suicidou-se.
O Proust comprava ratinhos brancos que depois picava com agulhas de chapéus e era assim que se realizava sexualmente (não sabia nada disto sobre ele, e se calhar até preferia continuar a não saber...)
Falámos também do Desprezo de Moravia e de um livro "O Cego de Sevilha" (não apanhei o autor). Um homem para se vingar de outro por uma patifaria nos negócios, filma em vídeo a mulher que o segundo adorava, a enganá-lo com o melhor amigo, prende-o no sótão, corta-lhe as pálpebras para que não possa fechar os olhos e obriga-o a ver o vídeo.
Foi-nos exibido um quadro (a preto e branco, um triângulo preto com o vértice virado para baixo e o resto do quadro em branco) Disse-nos que era de um pintor abstracto que vive no Porto, mas não nos disse o seu nome. E pediu-nos títulos para o quadro. Foram propostos: Más Notícias, Cálice, Decote, Triângulo não amoroso, Traseiro (este achei estranho) e Triângulo original.
Falou-se do grau 0 da escrita, escrita neutra.
Uma nossa colega foi escrever o início do seu texto de ódio, ao quadro. E foi-nos perguntado o que seria preciso para que ficasse esquemático. Primeiro tirar a pontuação, depois os adjectivos e a seguir as expressões coloquiais. O texto ficou mais em bruto. Colocou-se a questão se estaria mais forte. A resposta foi a que por estar mais curto ficou mais frio, por isso mais forte.
Falou-se de novo na matriz barroca e na matriz neoclássica e sobre qual será a casa que habitamos quando escrevemos. Em qual das duas grandes famílias de escritores, os que escrevem, acrescentando e os que escrevem, retirando.
Escrita meridional - Barroco, universo italiano
Escrita setentrional - Alemanha, países nórdicos mais clássicos
É sempre possível tirar mais, mas cuidado para não tirarmos tanto que que não diga nada, existindo o mesmo perigo no outro: pôr tanto que a mensagem se perde.

Agora o TPC para a próxima aula:
- Receita de algo que gostamos muito e escrever de forma mais literária possível.
(eu pensei na mousse de chocolate, mas ainda estou indecisa; entretanto comecei dois ou três textos...mas não estou satisfeita com o resultado. Como escrever uma receita culinária de uma forma literária? Penso nos livros "Chocolate" da Joan Harris e "Como Água para Chocolate" de Laura Esquivel. Deverá ser algo assim ou estarei simplesmente com uma carência de chocolate?)

quinta-feira, 12 de julho de 2007

8ª - 9 de Maio de 2007





Pois, não gostei da minha receita literária! (TPC)
Gostei de algumas das outras que foram lidas, em especial de duas nas quais se dava vida aos ingredientes, num caso pelas cores e imagens evocadas (por exemplo num bacalhau espiritual, pintar com as cores do sol poente o resultado de um abraço entre cenoura e cebola) e no outro, personificavam-se a colher de pau, a garrafa de vinho do Porto (meio surda talvez pela idade) os pedaços de chocolate e a margarina.
Tipo de textos que convoca todos os sentidos: "bacalhau espiritual", "badalhoca" assim como convoca os diminutivos: "a sopinha está boa?", "quer que traga a continha?". Pulsão de infantilização que coloca o empregado na função de "materno dixit" (não sei se é assim que se escreve).
E no entanto é um Universo cruel: matar um coelho, sangrar uma lampreia viva, introduzir uma lagosta em água a ferver.
Foi referido um poema irónico e sarcástico de Carlos Queirós, "Receita para um herói" cuja frase final é a seguinte: "serve-se morto".
Exercício: escrever uma crítica em 10 linhas de um restaurante.

É-nos exibido um quadro de Paula Rego, no qual um cão abraça uma "coelha" vestida, do lado umas figuras parecem espermatozóides e do outro surgem umas figuras diabólicas (não encontrei uma imagem deste quadro, por isso "postei" a de outro). É também referido de Goya, os Caprichos, quadro a preto e branco para ilustrar o universo de pesadelo erótico.
Universo de efabulação infantil. Crianças pequenas que pegam uma na outra ao colo. Walter Benjamim, Bruno Bertheleim e Eric Fromm ter-se-ão debruçado sobre o universo dos contos infantis e o despertar da sexualidade (a cinderela desperta para a sexualidade através do beijo, na Capuchinho vermelho a cor representa a menstruação e o lobo a sexualidade masculina).
É-nos mostrada uma imagem de uma escultura de Bernini, Apollo e Daphne. Esta para fugir transforma-se em ave. O desejo é visto como adiamento da consumação do acto sexual. No universo do desejo e do erotismo, quando a posse se efectiva o desejo desaparece. Um corpo nu é menos erótico do que outro pouco vestido. Uma praia de nudistas passada uma hora torna-se a coisa mais desinteressante deste mundo (isto foi referido na aula, como ainda não estive em nenhuma, não comprovei se será assim). O erotismo estará na distância entre dois corpos e não na aproximação entre dois corpos. Entre os instintos básicos do homem encontramos a fome para preservação da espécie e a sexualidade para reprodução da espécie.
Como exemplos de textos sobre o erotismo no masculino e no feminino são lidos um poema de David Mourão Ferreira, "Presídio" ("nem todo o corpo é carne") e de Natália Correia, "Cosmo Cópula". São-nos mostradas duas fotografias de homens nus. Na 1ª um bailarino célebre do New York Ballet olha-nos de frente. Trata-se de uma fotografia da década de 80. Na 2ª um outro olha-nos de lado com a luz atrás, num nu artístico. Apesar da 1ª ser mais reveladora é menos erótica.
Próximo TPC: Escrever um texto erótico, pode ser uma carta a manifestar o desejo, mas teremos de escrever como se fossemos alguém do sexo oposto a dirigir-se conforme os casos a um homem ou a uma mulher.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

9ª - 16 de Maio de 2007

Na sessão de hoje do atelier de escrita esteve ou estiveram presentes um jornalista ou dois jornalistas do Público. Cheguei atrasada por isso não ouvi a explicação para a sua presença, apenas que estariam lá para fazer uma reportagem.
Começou-se a sessão pela leitura de alguns TPC.
O corpo como sede de dor e de prazer. A privação de liberdade, física, cívica, intelectual, criativa. Sente-se como uma ilha sem capacidade de diálogo. A depressão, como incapacidade de ter os outros como interlocutores, de os ver como companheiros de prazer.
Somos divididos em três grupos:
1º A Ilha Autoritária
2º A Colónia. Pessoas dominadas ansiosas por se libertarem.
3º A Ilha dos Escravos.
Cada grupo e pela primeira vez de uma forma colectiva deverá escrever um único texto, tendo sido para o efeito escolhidos relatores. O 1º grupo deverá escrever uma declaração ideológica para justificar a manutenção das duas outras ilhas sob a sua pata. O 2º deverá escrever um manifesto ou panfleto para advogar a liberdade, a intenção de luta. No 3º, entre os escravos, um oferece-se como voluntário para ajudar os outros a fugir, sabendo que terá de morrer e cabe-lhes escrever a sua carta de despedida.
Eu estou no segundo grupo. É uma experiência diferente e o tempo parece-me demasiado curto.
Lidos os trabalhos, vêm as críticas. O 1º grupo esteve bem. O 2º (o meu) foi pouco reaccionário. O 3º foi um pouco impessoal ou emotivo numa despedida da vida.
Exercício: escrever uma queixa física, dimensão do sofrimento físico em consequência de uma enfermidade da qual se padece, com 10 linhas no máximo.
Escrevo sobre a dor de cabeça, alguns dos outro colegas também.

terça-feira, 10 de julho de 2007

10ª 23 de Maio de 2007



Continua-se a leitura dos textos sobre dores físicas.

Marguerite Yourcenar morreu em grande sofrimento mas recusou os "pain killers" porque queria sentir o avanço da morte.

É-nos mostrado um quadro de Mário Botas, Sem título, pintor que morreu jovem há quinze anos ("postei"imagens de outros quadros do pintor, porque gostei deles)
Portugal, Portugalidade, Identidade Colectiva. Porque é que sou português? O que é que há de português em mim? A melancolia, o pessimismo.
Exercício: Como é que eu vejo os portugueses?
Manifesto de Almada Negreiros, Anti-Dantas. Sebastianismo, Nacionalismo. "Falta-te cumprir Portugal" Fernando Pessoa. Ideia de que um dias as coisas vão ter um caminho. Caricatura do português médio rural, risível, ridículo, caricato.

Novo TPC: escrever um texto sobre quem consideramos que seja o melhor português de sempre, podendo no entanto escolher até um desconhecido (a minha opinião sobre o concurso, é que não fazia sentido; comparava-se o incomparável, cultivavam-se polémicas e acendiam-se discussões; eis quando, tenho de arranjar um e escrever sobre ele... )

segunda-feira, 9 de julho de 2007

11ª 30 de Maio de 2007



Fui até ao atelier para a penúltima aula. Ficámos com um novo e último TPC: um retrato impressionista com cores difusas, evanescentes, esbatidas, do que foi a nossa experiência no atelier . Sempre que eu penso que nos está a ser pedido o TPC mais difícil e impossível que poderia existir, venho a descobrir na sessão seguinte que afinal ainda não era aquele... (entretanto graças a um colega tive acesso à notícia que saiu num jornal sobre o atelier.

O perfeccionismo ou a procura do mesmo pode ser um inimigo da escrita. Não devemos apostar em nenhum dos extremos. Devemos conhecer as regras para depois as infringirmos.

Vimos a Escrita como texto automático. Focámo-nos no tema, no horizonte e na formulação. Não a vimos ainda na dimensão de processo de evasão, como uma maneira de fugir ao quotidiano, à rotina, aos nossos problemas. Uma fuga como nas drogas e no álcool. Uma maneira evanescente difusa de atordoamento, mais ou menos continuado, de forma a permitir uma escrita que circule nesta neblina. Poesia mais próxima.
É-no exibido um quadro de Gerard Richter, tem por título algo que me soou como"Chatten Blick", Estilhaço. Lembra-me as grades de uma prisão. Porque não encontrei imagem deste quadro, resolvi "postar" imagens de outros dois deste pintor.
Grelha, constritor, limitador de movimentos, opõe-se ao grito, ao estilo, à criatividade. Carácter evasivo, fuga a este universo, a este geometrismo. Fuga, paisagem desfocada, evasão
O professor declama por saber de cor um poema de Pedro Homem de Melo que se chamará Canção Ébria. Fixo algumas palavras "Não há silêncio".

domingo, 8 de julho de 2007

12ª 13 de Junho de 2007

Cidades de Italo Calvino. A última é a que ele considerava a cidade das cidades, Veneza, a única com nome de cidade, enquanto as outras tinham nomes de mulher.
Não concebe uma cidade sem alguém por trás.
André Gide
La Tapisserie Française.
Quadro. Lobo crucificado de Rottenberg, sessão de sado-masoquismo (no google não consegui encontrar imagem do quadro, nem melhor identificar o pintor). Tema religioso tratado de uma forma transgressional. BD. Revista à Portuguesa. Mário Castrim. Para trás mija a burra. Seiva Trupe. Cálice do Porto. Dora Leal, mulher de José Viana. Venda do Avante. Ary dos Santos. O lado social e a sátira política. A revista termina quase sempre mais ou menos da mesma maneira. No quadro final, a apoteose: a cabeça de cartaz desce uma escadaria acompanhada das coristas, saltos altos, muita pouca roupa. Streap tease final. Reflexão sobre uma das dimensões mais importantes da escrita, a dimensão da espiritualidade. Várias modalidades de expressão:
- uma oração;
- um texto de carácter profético, proselístico, necessidade de se enfeudaram;
- dimensão iconoclasta;
Texto metafísico ou anti-metafísico, espiritual ou anti-espiritual. Auto-retrato. A nossa relação com Deus, o cosmos, o absoluto ou a nossa ausência de tudo isto.
Passamos a ouvir Mozart
Pergunta a um padre velhinho em Coimbra se acreditava em Deus. Talvez, como o início. Como é que se preparou para votar, se não lê nem fala com ninguém. Irmã Lúcia "O destino de Portugal está nas mãos de Deus e dos Homens".
Para nós é um problema de existência, mas para certas pessoas é um problema não de existência, mas de essência.
Panteísmo: Tudo é Deus. Antero Quental.
Nada é Deus. O Grande Vazio. Budismo. Atitude perante os desafios que o homem recebe. Marxismo, ética, Freud, Trotsky. Mística pragmática. Crianças que iam à Catequese preparar a comunhão solene. À questão "Quem é Deus", respondeu uma "é um ser omnipotente, criador do céu e da terra, nosso redentor e remunerador".
Perguntaram a uma criança de seis anos se sabia quem era Santo António e ela respondeu: Sei sim senhor, é careca, tem uma bata castanha, um menino ao colo e um livro na outra mão que é para ele começar logo a aprender a ler.
"Tristeza após coito "Animais ficam tristes, mamíferos. O acto de criação do homem que é esse não pode competir com o acto de criação divina e é essa consciência.
George Steiner, filósofo inglês. A prova da existência de Deus é a música. Não sabemos o que é a música mas é um plano de de acesso a Deus.
Carlos Oliveira torturado pela ideia de depois da morte não haver nada. A menos que haja um inferno. Hipocondríaco.
Religioso: O inferno é a ausência de Deus. É um estado de agruras mundanas transpostas para o outro lado. Um invejoso vai para um mundo de invejosos, um cruel vai para um mundo de cruéis, etc.
Redimir uma vida, justificar, salvar.
Diários de Virgínia Wolf. Depois de um contrato com uma editora diz ao marido: "nunca mais vou ter prazer em escrever".